PlataData | Você já ouviu falar que maconha causa psicose?

Um estudo publicado recentemente reavaliou a relação entre sintomas psicóticos e o uso da substância
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Um estudo de revisão publicado em junho de 2024 na revista Nature Mental Health produziu uma síntese abrangente de outros 162 estudos realizados entre 1976 e 2023, que examinaram a associação do uso da maconha com sintomas psicóticos, como paranoia, delírios e alucinações.

maconha e psicose
Número de estudos incluídos por ano de publicação e desenho do estudo, incluindo pesquisas observacionais que avaliam usuários recreativos de cannabis, estudos experimentais que administram THC em voluntários saudáveis ​​e estudos medicinais que avaliam eventos adversos em indivíduos que tomam produtos de cannabis para uso medicinal. A pesquisa quase experimental envolveu pesquisas que testaram os efeitos da administração de THC em um ambiente naturalista. Imagem: Reprodução Nature Mental Health | Acesse aqui.

Os estudos foram divididos em três segmentos de acordo com a metodologia aplicada:

  1. Estudos observacionais;
  2. Experimentais com ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) e;
  3. Uso terapêutico da maconha.

Mais de 200 mil participantes foram submetidos aos protocolos em questão. Sendo que mais de 170 mil estão representados no segmento 1.

As taxas de associação encontradas para os estudos com metodologias 1 e 2; observacionais e experimentais com THC foram de 19% e 21% respectivamente, enquanto para o segmento 3 de uso terapêutico foi de 2%.

tamanho do efeito foi o parâmetro estatístico utilizado para avaliar o impacto que o fator estudado (uso de maconha) tem (associação) em determinado desfecho (sintomas psicóticos). Quanto maior o tamanho, maior a força da associação.

Nesse sentido, a administração de THC e a predisposição para alguma condição de saúde mental, como transtorno afetivo bipolar, apresentaram um tamanho do efeito elevado para manifestação dos sintomas psicóticos. Nenhuma outra variável foi capaz de prever essa associação.

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Taxas agrupadas de CAPS nos três diferentes desenhos de estudo. As estimativas no eixo y são as taxas (em%, intervalo de confiança de 95%) obtidas a partir de modelos que reúnem estimativas sobre as taxas de CAPS (incluindo sintomas semelhantes aos da psicose, paranoia, alucinações e delírios) por desenho de estudo. | Imagem: reprodução Nature Mental Health | Acesse aqui.

Menos clara foram as descobertas com relação ao histórico de uso dos participantes e seu efeito psicótico. Diante das metodologias aplicadas no estudo, nem a idade de início do uso da maconha, nem a alta frequência ou o tipo preferido de maconha (variedades ricas em THC ou ricas em CBD) podem causar sintomas psicoticos nos usuários que não possuem pré-disposição para alguma condição de saúde mental.

A maioria dos modelos meta-analíticos mostrou níveis consideráveis de heterogeneidade. Nem todo indivíduo exposto à maconha corre o mesmo risco de vivenciar sintomas psicóticos.

Existem diferenças individuais e farmacológicas na modulação do risco, que parece amplificado em pessoas mais jovens, do sexo feminino, com questões de saúde mental pré-existentes e com doses mais altas de THC.

Um em 200 indivíduos experimentou um episódio grave de psicose quando exposto ao THC. O risco de maior gravidade, que requer atenção médica, foi relatado com menos frequência nos estudos revisados, destacando que os sintomas psicóticos não ocorrem apenas com exposição à maconha.

Esse estudo de revisão concluiu que o uso de cannabis pode aumentar o risco de psicose, mas não é suficiente nem necessário para o surgimento de sintomas psicóticos.

renato filev

maconhometro
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