A perseguição da META com os terpenos

Atenção, Big Tech, terpenos e produtos terpenados não são maconha
terpenos

Se você não caiu nesse artigo de paraquedas, provavelmente já ouviu falar na palavra terpeno. Mas se caiu, não tem problema, a gente troca essa ideia antes de passar para o assunto principal. Os terpenos estão presentes em muitas plantas e com a cannabis não é diferente. Muita gente acha que a cannabis é composta somente pelos canabinoides, mas existe uma complexidade química muito além dos conceitos básicos.

Fazendo parte dessa complexidade, nós temos os terpenos da planta. Os terpenos são elementos químicos, que trazem aroma e sabores específicos para cada planta. No trago dá para sentir os sabores e quando carbura dá pra sentir o aroma. Quem nunca “tragou” sem acender só pra sentir o sabor da erva não queimada? “Que gosto tem essa daqui?”

Mas além disso, os terpenos possuem propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e antimicrobianas. Isto é, propriedades terapêuticas, que interagem direto com o nosso corpo, mais especificamente no sistema endocanabinoide, potencializando os canabinoides presentes na planta. Quanto mais completo for o seu consumo da planta, melhor será o resultado. É o que chamamos de Efeito Comitiva ou Efeito Entourage. A discussão sobre isolar moléculas de CBD, demonizar o THC e não consumir os diversos terpenos e flavonoides da cannabis, a gente deixa para um outro dia.

Alguns desses terpenos são, por exemplo, o limoneno, que traz um aroma mais cítrico com um cheiro mais voltado para o limão ou para a laranja, podendo ser encontrado justamente em frutas cítricas. Outro bastante conhecido é o pineno, que traz um aroma mais amadeirado, que pode ser encontrado no alecrim, pinho ou hortelã.

Resumindo, basicamente os terpenos são o purê de batata no cachorro quente do paulista, o ketchup na pizza do carioca (aqui eu repudio totalmente essa atitude e prefiro a pizza no seu mais puro estado), o alho no feijão, o limão na tilápia frita e o granulado do brigadeiro. No caso da cannabis, são mais de 100 tipos de terpenos diferentes e é aí que surge um mercado grande e que vem sendo explorado por diversas empresas há um bom tempo.

O mercado de produção e exploração dos terpenos entra exatamente na falta da legalização da cannabis. Como não podemos utilizar os compostos da planta para produzir os sabores e as sensações, exceto para o uso medicinal, diversas empresas exploram essas outras formas de produção de terpenos idênticos aos da planta e colocam no mercado para o consumidor ter uma experiência mais saborizada. Essa experiência vai desde sorvete, cerveja, temperos para comida, chocolates e produtos que podem modificar o sabor do “beck”, normalmente utilizado no prensadinho de galo.

terpenos

Imagem: Reprodução/Pexels

O problema acontece quando essas empresas, com perfil ativo no Instagram e até mesmo em outras redes sociais, são banidas de forma permanente da plataforma. Recomendo a leitura do meu artigo “META e a censura da Cannabis” aqui no Cannabis Monitor. Nesse artigo eu explico melhor as diretrizes da comunidade, a política de drogas do Instagram, as liberdades constitucionais e os julgamentos que nos permitem falar sobre a planta em um contexto geral.

Acontece que, a justificativa utilizada para banir esses perfis é de que eles estão “vendendo produto ilícito”, como se os terpenos fossem, realmente, a maconha sendo vendida pela empresa de produtos terpenados. Ocorre que, isso é um grande problema, porque em linhas frias, as big techs estão acusando, diretamente, os proprietários dessas empresas de praticarem o crime de tráfico. Sintetizando, é vender maconha.

A solução que meu escritório tem encontrado nesse meio tempo é ingressar com uma ação judicial para que o perfil seja reativado, pelo menos antes de uma legalização ou pelo menos de alguma regulamentação que permita utilizar os compostos químicos da cannabis, onde provavelmente as confusões geradas pelas big techs iriam diminuir drasticamente. Em um desses casos, entre indenização, multa e ressarcimento do valor gasto com tráfego pago, a Meta foi condenada a pagar a quantia de R$ 21.200 (vinte e um mil e duzentos reais) para um dos clientes aqui do escritório e o perfil foi reativado após a liminar ser concedida.

Para finalizar, eu digo que o ideal é que a inteligência artificial da Meta passe por uma melhoria, mas eu me pergunto se e quando irá acontecer. Perdurando a omissão e a falta de entendimento do mercado legal que envolve a cannabis, as pessoas continuarão sendo prejudicas e os conflitos não serão extintos.

Clayton Medeiros

Compartilhe
Rolar para cima