PlataData | Estudo brasileiro testa DMT para tratar pacientes com depressão resistente

Pesquisa da UFRN publicada na revista Psychedelic Medicine mostrou redução na severidade da depressão em 6 pacientes participantes do experimento com doses de DMT vaporizado
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The Antidepressant Effects of Vaporized N,N-Dimethyltryptamine: An Open-Label Pilot Trial in Treatment-Resistant Depression
Marcelo Falchi-Carvalho, Handersson Barros, Raynara Bolcont, Sophie Laborde

Psychedelic Medicine, Agosto de 2024
Acesse: https://doi.org/10.1089/psymed.2024.0002


Este primeiro artigo sobre os efeitos terapêuticos da N,N-Dimetiltriptamina (DMT) do Centro de Pesquisa sobre Psicodélicos (CAMP) é inovador de diversas formas. O grupo, que tem pesquisas muito importantes sobre os efeitos da ayahuasca, inova ao buscar o desenvolvimento de um tratamento agora com a DMT extraída da jurema preta (Mimosa hostilis), árvore presente em abundância na região nordeste do Brasil. 

Os estudos anteriores do grupo mostraram em ensaios clínicos duplo-cego e randomizados o efeito antidepressivo da ayahuasca. Enquanto a ayahuasca tem substâncias provenientes do cipó Jagube (Banisteriopsis caapi), as betacarbolinas: harmina, harmalina e tetrahidroharmina e também a DMT da Chacrona (Psychotria viridis), o atual estudo foca especificamente no efeito da DMT sobre os sintomas depressivos de pacientes com diagnóstico de depressão resistente a tratamentos.

A Jurema e o SUS

A N,N-Dimetiltriptamina (DMT) é uma substância psicodélica natural, encontrada em diversas plantas e animais, conhecida por induzir experiências visuais intensas e alteradas de consciência. 

No entanto, a Jurema Preta é uma planta nativa do Brasil, especificamente da região semiárida do Nordeste, particularmente rica em DMT especialmente na casca de sua raiz, o que a torna uma fonte eficiente para a extração da substância. Além disso, é uma planta de uso ancestral indígena e que também é utilizada de forma sincrética em diversos cultos afro-brasileiros.

No desenho deste estudo, os pesquisadores desenvolveram uma adaptação para que a aplicação do tratamento possa ser mais facilmente integrada ao Sistema Único de Saúde. Buscou-se um tratamento rápido e não invasivo, através da inalação da DMT vaporizada, tendo um tempo de ação de poucas dezenas de minutos. Esta forma de uso é integrada à psicoterapia, com sessões de preparação e acompanhamento durante a experiência. Assim, buscaram reduzir o custo do tratamento, demandando menos horas dos profissionais. 

O tratamento proposto

Participaram seis pacientes com diagnóstico de depressão resistente ao tratamento convencional. Apesar do estudo ter um número pequeno de participantes, mostra um grande potencial de impactar positivamente o campo dos tratamentos para depressão resistente.

Eles receberam duas doses da DMT, a primeira de 15 mg e a segunda de 60 mg. Os sintomas depressivos foram medidos através de duas escalas, a MADRS e a PHQ-9.

Os resultados mostraram redução significativa dos sintomas um dia e um mês após o tratamento. Uma semana após o tratamento 83,33% dos pacientes mostraram resposta ao tratamento, com 66,67% atingindo remissão. Ao final de um mês, 50% destes ainda apresentavam remissão dos sintomas.

Agora, aguardamos as próximas pesquisas, com mais participantes em uma metodologia duplo-cego e randomizada com placebo, que devem mostrar com mais consistência o quanto este tratamento pode ser seguro e eficaz para um quadro tão importante como a depressão. Estas poderão apontar um novo caminho nos tratamentos com psicodélicos, a partir de uma planta tradicional brasileira e com uma lógica adaptada ao nosso sistema de saúde.

bruno gomes

kya mesquita

maconhometro
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